viernes, 22 de noviembre de 2013

UM BEIJO SOBRE UMA TAÇA DE RUM DOURADO

UM BEIJO SOBRE UMA TAÇA DE RUM DOURADO

Quando a noite jaz tranqüila e estranha
e a escuridão profunda desliza mais,
abro as portas do jardim das ilusões,
terra rica de onde brotam férteis as palavras,
frágeis flores de cores mornas,
frutos incertos de um único suspiro,

cativo, me rodeiam em pura calma,
cravos anônimos que acordam meu prazer,
céu azul sem nome no que moram
tuas tenras formas de índia branca,
olhos lindos que deixaram de me olhar,
tua imagem é ausência feita tristeza,

teu sopro me gela como morte doce,
morte imprevista e silenciosa,
mudo piscar de olhos que nos chega
e nos deixa para sempre calados,
beijo mal dado
centelha acidental que se acende

e se apaga no suspiro de um só instante,
pérdida infinita que nos transforma
em nada, em todo, em pó de estrelas,
acidente divino que nos presenteia
o jogo da vida e a morte.

Quando a noite jaz tranqüila e estranha
dorme na minha mente teu rosto
como presente alheio que sonho
ternura que não tenho, que perco,
ladrão silencioso da minha vida,

sim, a vida, esse inseto esquivo que voa
em círculos e escapa de minhas mãos,
lábios incertos os teus minha índia branca,
que beijam fugitivos a um amigo,
última olhada, cálida brisa que passa

que sento perta mas não me toca,
loucura temporal que acende
minha ilusão mais fria, mais morta,
mais ternamente morta que a vida,
calada, de sensações inúmeras

que deliciosas e únicas se desvanecem
como a cena final de um teatro,
a comédia e drama de teus abraços
mais mornos e envolventes, mais abraço
que todos os abraços juntos.

Quando a noite jaz tranqüila e estranha
tua boca treme de silêncios,
sorvos de rum dourado compartilhado
com meus lábios bêbados de desejo
labios encarnados em um beijo

sobre a borda de uma taça de cristal,
instante mágico no que teu mais
tenro encanto me fez feitiço,
da borda de uma taça de cristal
sem te beijar, furtei teu beijo mais doce, 

beijo embriagado pelo aroma
e o sabor de um rum dourado,
beijo esquecido que eu tomei
como aquele que toma emprestado da própria vida,
hipoteca de sangre que escraviza minha alma

e se apropria de meu coração,
lábios que sem se tocar se beijam
sobre a borda de uma taça de rum dourado
sem querê-lo tu e querendo-o tanto
e tanto eu, tanto e tanto, tanto,

sobre a úmida marca de teus lábios
coloquei meus lábios, sobre a mesma borda
no que teus lábios sorveram o rum
senti o suave calor de tua boca se dissipando
e teu respiro etéreo tomando-me o coração,

o sabor de teu batom penetrando minha voz
beijo úmido e fresco envolvido de embriaguez
repousado e úmido como a cada um dos poros de tua pele,
frio e amargo como um adeus, como um adeus
adeus sem palavras de despedida, sem despedidas.

Quando a noite acorda certa e conhecida
com as primeiras luzes ainda frias da manhã,
me despido de meu jardim das ilusões
e me entrego às incertezas da vida
na busca de teus olhos e teus lábios vermelhos, minha índia branca.


CÉSAR AUGUSTO DE LAS CASAS (c)

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