jueves, 21 de noviembre de 2013

TUAS ROUPAS DE CHANEL E CHRISTIAN DIOR

TUAS ROUPAS DE CHANEL E CHRISTIAN DIOR

Nesta noite eu te olhei, quando teus olhos calavam esperanças
quando teus olhos calavam esperanças, nesta noite eu te olhei.

Tuas roupas são gladíolos perdidos no tempo
pétalas de outras primaveras alugadas a uma flor,
larvas insaciáveis que se nutrem de teu corpo,
não te deixam, não se vão, são tua alma feita pedaços,
lembranças mortas sem retorno, migalhas de alguma dor.

Tuas roupas são encaixes de esterco e limão,
únicas e soberanas donas de tua pele e teu suor,
nua tu não és nada, só rugas enegrecidas de carvão,
vestida tu és uma princesa das ruas, fantasiada como uma flor,
tuas roupas sujas e rasgadas são de Chanel e Christian Dior.

Tuas roupas são conselhos bem baratos, puro frio e solidão,
sentada no asfalto sofres sozinha de artritismo e cansaço
dores do corpo, dores da alma, tu não és de curta idade,
nas noites quando passo, eu te olho e agora entendo,
que tuas lágrimas estão feitas de mofo e umidade.

Teu lar é uma praça com jardins de todo um povo,
tem gramado um pouco seco, terra, lama, imaculada sujeira,
urina de bêbado, resíduos de cerveja e de excremento
perfume da rua, fragrâncias de desodorante ambiental,
melodias dos carros, ônibus, transeuntes, fluxo social.

Teu lar tem pinturas, grafitos e palavrões enfeitando um monumento,
anúncios de néon, faróis, postes luminosos que iluminam ao teu redor,
deitada no concreto, obscura sempre dormes com frio em um rincão,
baratas, moscas e mosquitos a cada noite estão de festa
teu corpo em que aterram é uma fonte de calor.

Tua cama é de concreto, frias escadas de áspera cor
entrada encerrada, tapete vermelho que alguém se roubou
hotel de luxo envelhecido, por essas portas alguma vez passaste,
moça fresca e nova, amante de ocasião,
lembranças de pedra presa em num castelo de algodão.

Teu rosto foi fruta doce, alegria dos homens,
casca alguma vez muito macia que com o vento se secou,
tuas mãos de rosa fresca, hoje são lençóis impossíveis de passar,
teus lábios de figo seco são consciências silenciadas
deles penduram vozes que tu queres calar.

Boca de modelo, lábios de cristal,
doces reflexos que não querem beijar,
esquecimento sempiterno, esquecimento só de hoje
perdida nesta selva de florestas de cartão,
és tu mulher um coração, se diz que definhou,
modelo o figurino da revista Vogue.

CÉSAR AUGUSTO DE LAS CASAS

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